segunda-feira, 19 de outubro de 2015

AINDA O PRESO 44

 
Sócrates foi liberado e apesar de proibidinho (coitadinho) de falar com os outros arguidos e de deixar o Rectângulo pode finalmente passear, visitar ( ‘agradecer a…’ ) Soares, treinar no Estádio Universitário, ir ao Parque ouvir os passaritos, visitar sapatarias e boutiques – mirando e remirando a sua linha ao espelho “[…] para ver se está bem assim…”. Mas deixemo-nos de doçuras: Pinto-de-Sousa era, até apenas há alguns dias, um preso político (!). Ele e os seus capangas mais próximos esganiçaram esta noção logo desde o início (quando foi engavetado à saída da manga): indignado, ferido no seu amor-próprio de narcisista colérico e delirante, Pinto-de-Sousa berrou, escreveu cartas a vermelho, ameaçou, arrebanhou apoiantes, financiou campanhas (“brancas”, por oposição às “negras” que o levaram à pildra), contratou dois advogados-de-crime-organizado-e-terrorismo-ideológico, esmurrou o ar, exigiu visitas solidárias à sua cela. Esta noção babosa e aldrabona (a do “preso político”) foi fácil e prontamente absorvida por mentes rudimentares como a do Embaixador Angolano que afirmou, no dia da manifestação em frente à Embaixada de Angola em Lisboa, que Portugal “também tinha José Sócrates como preso político” (para eles, lá em Angola, é normal o que Sócrates possa ter praticado…).

Mas ponhamos à prova a tese do “preso político”:
 
 
P: Foi Sócrates detido por emitir opiniões ?
R: Não. Ele até tinha / teve um programa só dele na televisão do Estado.

P: Foi Sócrates detido por actividades subversivas ou conspirações ?
R: Não. Até porque nunca lhe conhecemos senão actividades desse tipo…

P: Foi Sócrates detido por tentar fundar um partido político ?
R: Não. Desde então foram fundados uma boa dúzia – todos eles utilíssimos.

P: Foi Sócrates detido por tentar revitalizar o PS e ir de novo à luta ?
R: Não. Até porque se raspou voluntariamente para Paris – bem depressinha.

P: Foi Sócrates detido por professar alguma estranhíssima religião ?
R: Não. Até porque o seu exacerbado narcisismo o impossibilita de tal coisa.
 
 
Estamos então entendidos: se o Código Penal diz “corrupção”, Pinto-de-Sousa diz “preso político”; se o Código define “fuga ao fisco”, Pinto-de-Sousa grita “preso político”; se o Código alvitra “branqueamento de capitais”, Pinto-de-Sousa berra “preso político”; se o Código tem a ousadia de referir “furto de chocolates”, Pinto-de-Sousa brama “preso político”.

Por este brilhante silogismo, todo e qualquer político – passado, presente ou futuro – jamais poderá ser investigado, detido, julgado ou condenado pela prática de crimes de delito comum: ficam logo na categoria de presos políticos. Até Soares-Jr, o coerente Joãozinho, babou logo na Sic-Notícias que “… só deveria haver lugar a prisão preventiva em caso de suspeita de homicídio” (autêntico…).
 
Deus tenha Piedade de nós.