sábado, 9 de janeiro de 2016

... esperemos que passe DEPRESSA.



O Presidente pretendido pelos partidos que temos é, necessariamente, um coadjuvante previsível e amável residente em Belém – quando ‘esses’ partidos governam; e tem de ser um piolho-de-costura chato e sabotador quando ‘esses’ partidos estão na oposição. Ou seja, fica sempre mal na fotografia e é detestado por pelo menos 50% do parlamento. Quanto ao Povo, o Presidente hesitante, desastrado e ambíguo é alvo imediato de críticas e rancores longos de 5 anos: um pesadelo. É no meio deste nevoeiro psico-institucional (pegajoso, mal-cheiroso) que todos os partidos, forças políticas e facções – odiando-se mutuamente – se agitam para arranjar um candidato “que não seja um líder de facção”; só para rir. Este último enunciado da política à portuguesa foi parido no seio do PS por causa de Cavaco, e saiu recentemente das bocas de Augusto Santos Silva e Pedro Silva Pereira – respectivamente um verdugo celerado e um servil capacho de Sócrates. Mas a coisa “pegou bem”, de tal forma é idiota e gordurosa.
Salazar tinha resolvido, mas a prazo, a questão da Presidência; Carmona foi um fiel e pacífico servidor do Estado Novo – a ponto de ter gerado, com a sua morte inusitada, uma cómica ira do Presidente do Conselho: “Tinha-lhe dado ordem específica para não morrer !”. Craveiro Lopes foi ‘um incómodo a não repetir’; e não fora a chapelada eficaz de 1958 Humberto Delgado teria sido eleito Presidente. Uma judiciosa revisão da Constituição de 33 remeteu prudentemente a ‘questão de arranjar um Presidente’ para um colégio eleitoral parlamentar da AN – ou coisa que o valha.
Ora o que fizeram os Doutores Jorge Miranda e Vital Moreira (entre vários outros) em 1976 ?   Fabricaram laboriosamente um documento que plasmava, em definitivo, a desconfiança institucional como modo de governar: poderes e contra-poderes; comadres e compadres; cargos e órgãos de soberania; procedimentos e prazos – tudo de forma a assegurar a sobrevivência política e pecuniária de variadíssimos interesses e ‘sensibilidades’ pela vigilância mútua e não, obviamente, em prol da Democracia, da Liberdade ou do Povo.
Mas a Constituição e os Poderes Presidenciais ainda não estavam “a funcionar bem”: onde subsistia o sebento, anacrónico e quarteleiro Conselho da Revolução (Presidido pelo Chefe de Estado…) interpretando a Lei e atribuindo o Veto, uma revisão esperta e providencial transformou democraticamente esse único Órgão em 3; A Presidência ela própria, O Conselho de Estado e o Tribunal Constitucional. Foi ainda inventada, bem a tempo, uma 4ª indispensável lata de vermes chamada parvamente Conselho de Concertação Social, onde pseudo-patrões, sindicalistas e outros artistas se reúnem raivosamente a limpar ossos. Muito eficaz.
O Presidente não governa mas pode chatear; não legisla mas pode sabotar; não é ‘alinhado’ mas ‘pode falar’. Daí todo este charivari. Eis o pardacento ambiente – cheio de vício – onde é conduzida a política do País; e não há candidato “institucional” interessado em expor este santo sudário ao Zé-pagode. As razões verdadeiras da eleição deste ou daquele candidato serão a echarpe, as frases ocas, se parece ou não parece boa pessoa, se vai muito à televisão, se gosta muito de idosos ou crianças ou de Educação, se “é a favor do Estado mais Social ou menos Social”. Merdices.