Isabel dos Santos e o marido, Sindika - colecionador de Arte Africana. |
No Porto, um dos elefantes brancos herdados pela edilidade foi ontem vendido em hasta pública. A denominada Casa Manoel de Oliveira (denominada não se sabe bem por quem...) estava inútil, desabitada e vazia de qualquer espólio desde a sua conclusão em 2003. Na notícia abaixo diz-se que "foi lançada (!) em 1998"; "lançada", assim do género "barro à parede" - a ver se pega. Não pegou:
« A 'casa do cineasta', vendida hoje por 1,58 milhões de euros, vai ser a nova sede da Fundação Sindika Dokolo para a Europa e um "espaço de reflexão e aprendizagem para jovens artistas". » Albergará também a maior parte da Colecção do Benfeitor.
'Casa Manoel de Oliveira' por Eduardo Souto de Moura - piso superior |
Antes... |
« Para o presidente da autarquia do Porto, Rui Moreira, a venda da casa é "mais do que um alívio" porque "existia uma preocupação grande" por esta estar "ao abandono", pelo que "além do interesse monetário" da venda, também é resolvido "um problema de reabilitação".
"É uma casa da autoria de Souto Moura, portanto tem desde logo um impacto relevante na cidade do ponto de vista arquitetónico e era um ativo que estava perdido porque o uso para que foi concebido nunca foi concretizado e não foi com certeza por culpa da câmara municipal", disse.
A Casa Manoel de Oliveira foi lançada em 1998, sem que tivesse sido formalizado um acordo com o realizador para o uso da casa, o que acabaria por condicionar o futuro do imóvel que ficou concluído em 2003, mas nunca teve o uso para que foi pensado.
Em 2007, o advogado do cineasta responsabilizou a câmara, liderada pelo social-democrata Rui Rio, pelo fracasso da criação da casa-museu.
Cerca de quatro anos depois, o filho do realizador, José Manuel Oliveira, informou que se tinha gorado, por falta de acordo, a hipótese de transferência do acervo para o edifício, notando que a conduta da autarquia tinha levado o cineasta a não aceitar a "Chave da Cidade". »
... y después. |
Certíssimo é que Souto de Moura não ficou sem os seus honorários. O projecto é interessante e não se pode pôr em dúvida o desenho e o gesto poético do Autor. Será de questionar, sim, o modo como todo o processo decorreu, quem teve "a ideia", quem resolveu "lançar" a "casa" em 1998, com que dinheiro, como se deu a escolha do arquitecto (será que poderia alguma vez ter sido um tipo dos Açores ?), quanto custou a obra, quanto tem custado a sua paupérrima mas necessária manutenção desde que abriu e fechou em 2003; e sobretudo quem no fim poderia e devia responder na Justiça por tão irresponsável (criminosa) gestão dos dinheiros públicos; uma 'casa' que, ao que tudo parece, não era sequer desejada pelo visado - sendo que aos "visados" é muito mais confortável e fofo vender por largos dinheiros (públicos) o seu espólio a instituições ainda prestigiadas e fidedignas como a Biblioteca Nacional ou similar. A bendita e inventada 'Casa Manoel de Oliveira' não devia ter dinheiro nem para comprar carrinhos-de-linhas.
Sobre um projecto 'à Porto' - com todos os seus deliberados erros construtivos, porque dão mais pinta a projectar e a desenhar para as revistas - passaram 13 anos. E num dos janelões (por detrás dos quais jazem inúteis várias cadeiras formiga de Arne Jacobsen que ainda não foram furtadas por pessoas cultas) está agora aplicado um mui-fatela autocolante "scuritas"; Deus meu, que sacrilégio.
Este País da Cocanha está cheio de 'casas' onde fulanas e sicranos do situacionismo kultural lambecuzista vão regularmente agitar um espanador e merecer as suas magras sopas, coitados: ele é a 'Casa Manoel de Oliveira', a Casa Fernando Pessoa, a Casa-dos-Bicos-que-a-Pilar-e-o-PS-fizeram-ao-Saramago, a Casa das Artes, a Casa da Música, a Casa Conselheiro Bezerra, a Casa Civil, a Casa dos Segredos - enfim Casas de Putas.