Os comentadores que durante toda a noite de
ontem deram palpites e agitaram categoricamente as suas ruidosas matracas a
propósito do governo de Costa, do OE e da convivência próxima com Marcelo fizeram-no
com base em hipóteses, premissas e silogismos perceptíveis mas todos esqueceram
estrondosamente o facto de que Costa não tem e nunca teve qualquer tipo de estratégia.
Tecer considerandos sobre o futuro comportamento de um chefe de governo e de
partido que navega à vista – quando não há nevoeiro – é tão útil como aplicar
sulfamidas numa perna de pau.
Sem Guterres (que farejou a tempo o
chavasco ordinário das campanhas nacionais…), a Costa foi muitíssimo bom quando
lhe apareceu Nóvoa do meio da névoa (desconhecido, banal, obtuso, autossatisfeito);
e melhor ainda quando Maria resolveu ‘avançar’: podia cinicamente “conferir
liberdade de voto” e esperar que perdessem os dois – o que se veio mansamente a
verificar. A última coisa que lhe fazia falta era uma senhora católica
acompanhada de Melícias a ‘estabelecer pontes ao centro’ ou um ex-reitor
esquerdista-radical a ‘encorajar o controlo operário e as efemérides de Víctor
Jara’. Assim, apesar de ter medo da sabedoria e da rapidez absurda de Marcelo,
sempre conservará exclusivamente algum protagonismo político à esquerda nos próximos tempos. A
tarefa mais difícil para ele nunca se avizinha ou se aproxima – mas é sim
constante e muito presente: é manter-se vivo com a aplicação de elásticos,
clips, cola e cuspo no sólido Governo do
acordo de esquerda. Apoquentam-no a subida das malucas e a fúria surda de Jerónimo.