Nesta comovente notícia necrológica “O
Grande Oriente Lusitano (1802) informa” que o mano Almeida 'Santo Traficante' Santos “passou ao Oriente
Eterno” (passed, kicked the bucket...); ou seja, morreu de
morte macaca seguindo directamente de Ocidente para Oriente – lá, onde o Sol se
ergue todos os dias, os lotus se abrem graciosamente e Kim Jong-un trata das roseiras - a fim
de descansar para todo o sempre na companhia mansa de Robespierre e sob o olhar
benevolente do Ser Supremo.
Como era previsível, na sequência do
falecimento do Consigliere apenas se
depositou o pobre corpo em câmara ardente na Basílica da Estrela (de 5 pontas)
e seguir-se-ia o funeral “com cremação e sem qualquer cerimónia religiosa, como
era desejo do próprio”. O velho salteador aventaleiro passou; e beneficiou por artes suas do melhor que dois mundos têm
para oferecer: um velório num imponente edifício religioso da Capital – a Basílica
da Estrela (a calhar !), cuja construção foi promovida por Dona Maria I Rainha
de Portugal e do Brasil – e um serviço fúnebre mação-aventalo-livre, “apenas
com cravos vermelhos”. A fulaninhos de
esquerda mas miseráveis de bolsa e de origem grossa como António Feio, Raúl
Solnado e José Saramago, Almeida Santos deixou de bom grado o pífio e térreo Palácio
Galveias; a “ele” destinou, por desejo ou residência escolhida, o luxo
tradicional e seguro de um templo católico: dupla partida a pregar a críticos
indigentes e a Deus (ao Deus Pai de Jesus Cristo). Designado toscamente nas parangonas
desprevenidas dos jornais como “o jurista que ajudou a unir o País e
o PS depois de Abril”, Almeida Santos beneficia na morte da reputação
cuidadosamente arranjada de que beneficiou em vida: já a muito poucas pessoas
interessa o facto de Almeida ter feito uma carreira de advogado em Moçambique
que culminou meteoricamente em truques fazendo-o
enriquecer do dia para a noite: depressa, honestamente e bem não há quem. Quanto à
união que levou a cabo no PS deve ter sido com a cola das besuntices e do maquiavelismo mais pragmático: é-lhe conhecida a chalacenta frase (que não
é sua) de que “para os nossos amigos, tudo; para os nossos inimigos, nada; para
os restantes, cumpra-se a lei”. Há que reconhecer-lhe, a par de uma fama
merecida de cigano moral e material, uma certa ironia e alguma graça; a graça
dos malandrecos que sabem que são malandrecos e que têm conseguido escapulir-se. Honra lhe seja feita, o Socialismo nunca o impediu de andar bem vestido com as melhores
fazendas e as melhores alpacas; e de se abafar com fausto em sobretudos da
melhor vicunha e em luvas de pele de toupeira.
É de compreender o choque e a dor de Maria de Belém que, devido ao inusitado óbito do ilustre amigo, nem conseguiu comparecer no debate televisivo de ontem: a pobre senhora devia admirar profundamente il Consigliere. Também Ferro Rodrigues, qual trambolho institucional e político, leu tartamudeando com esforço infantil um textozeco elegíaco na Assembleia – ao qual os deputados bateram palmas sentidas. Isto é lindo em qualquer parte do Mundo !
Deixa descendência genética na AR, a sua
filha sobrevivente que foi judiciosamente colocada em lugar elegível nas listas
de deputados. Esta hereditariedade monárquica
e de sangue acontece – à excepção das Monarquias – apenas no Comunismo e no
Socialismo: a História passada, presente e futura esteve, está e estará a
abarrotar de exemplos excelentes.
Alfredo Fredo
Barroso, pateta como é, escrevinhou anteontem que “ele nem era
membro fundador do PS”; ora o Velho Almeida nunca precisou de fundar o que quer que fosse – conseguiu sempre
habilidosamente beneficiar das fundações
dos outros, fazendo-se necessário, prestável, influente e bom conselheiro.