quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

IL CONSIGLIERE È MORTO. (a necrologia salva o dia)



Nesta comovente notícia necrológica “O Grande Oriente Lusitano (1802) informa” que o mano Almeida 'Santo Traficante' Santos “passou ao Oriente Eterno” (passed, kicked the bucket...); ou seja, morreu de morte macaca seguindo directamente de Ocidente para Oriente – lá, onde o Sol se ergue todos os dias, os lotus se abrem graciosamente e Kim Jong-un trata das roseiras - a fim de descansar para todo o sempre na companhia mansa de Robespierre e sob o olhar benevolente do Ser Supremo.
 
 
Como era previsível, na sequência do falecimento do Consigliere apenas se depositou o pobre corpo em câmara ardente na Basílica da Estrela (de 5 pontas) e seguir-se-ia o funeral “com cremação e sem qualquer cerimónia religiosa, como era desejo do próprio”. O velho salteador aventaleiro passou; e beneficiou por artes suas do melhor que dois mundos têm para oferecer: um velório num imponente edifício religioso da Capital – a Basílica da Estrela (a calhar !), cuja construção foi promovida por Dona Maria I Rainha de Portugal e do Brasil – e um serviço fúnebre mação-aventalo-livre, “apenas com cravos vermelhos”. A fulaninhos de esquerda mas miseráveis de bolsa e de origem grossa como António Feio, Raúl Solnado e José Saramago, Almeida Santos deixou de bom grado o pífio e térreo Palácio Galveias; a “ele” destinou, por desejo ou residência escolhida, o luxo tradicional e seguro de um templo católico: dupla partida a pregar a críticos indigentes e a Deus (ao Deus Pai de Jesus Cristo). Designado toscamente nas parangonas desprevenidas dos jornais como “o jurista que ajudou a unir o País e o PS depois de Abril”, Almeida Santos beneficia na morte da reputação cuidadosamente arranjada de que beneficiou em vida: já a muito poucas pessoas interessa o facto de Almeida ter feito uma carreira de advogado em Moçambique que culminou meteoricamente em truques fazendo-o enriquecer do dia para a noite: depressa, honestamente e bem não há quem. Quanto à união que levou a cabo no PS deve ter sido com a cola das besuntices e do maquiavelismo mais pragmático: é-lhe conhecida a chalacenta frase (que não é sua) de que “para os nossos amigos, tudo; para os nossos inimigos, nada; para os restantes, cumpra-se a lei”. Há que reconhecer-lhe, a par de uma fama merecida de cigano moral e material, uma certa ironia e alguma graça; a graça dos malandrecos que sabem que são malandrecos e que têm conseguido escapulir-se. Honra lhe seja feita, o Socialismo nunca o impediu de andar bem vestido com as melhores fazendas e as melhores alpacas; e de se abafar com fausto em sobretudos da melhor vicunha e em luvas de pele de toupeira.
 
É de compreender o choque e a dor de Maria de Belém que, devido ao inusitado óbito do ilustre amigo, nem conseguiu comparecer no debate televisivo de ontem: a pobre senhora devia admirar profundamente il Consigliere. Também Ferro Rodrigues, qual trambolho institucional e político, leu tartamudeando com esforço infantil um textozeco elegíaco na Assembleia – ao qual os deputados bateram palmas sentidas. Isto é lindo em qualquer parte do Mundo !
 
Deixa descendência genética na AR, a sua filha sobrevivente que foi judiciosamente colocada em lugar elegível nas listas de deputados. Esta hereditariedade monárquica e de sangue acontece – à excepção das Monarquias – apenas no Comunismo e no Socialismo: a História passada, presente e futura esteve, está e estará a abarrotar de exemplos excelentes.
Alfredo Fredo Barroso, pateta como é, escrevinhou anteontem que “ele nem era membro fundador do PS”; ora o Velho Almeida nunca precisou de fundar o que quer que fosse – conseguiu sempre habilidosamente beneficiar das fundações dos outros, fazendo-se necessário, prestável, influente e bom conselheiro.