quinta-feira, 19 de novembro de 2015

JORNALICE AQUIESCENTE


 
 
 

Os ‘Criados Mudos’: assim alguém chamou, na blogosfera, aos jornalistas obedientes e acríticos que nas televisões portuguesas fingem entrevistar políticos. É o epíteto perfeito para uma colecção de homens e mulheres que em todos os Canais consideram estar a fazer jornalismo. Zorro também tinha um criado mudo (Bernardo): a calhar, porque se este fosse apanhado e torturado pelo Sargento Garcia, jamais conseguiriam extrair do homem o que quer que fosse sobre a verdadeira identidade do Mascarado.
Os nossos ‘criados mudos’ existem num contexto nada aventuroso; são mais simples, mais feios, mais previsíveis, mais acinzentados, mais caros - e os políticos adoram-nos (principalmente os de esquerda): Vítor Gonçalves (RTP), Judite de Sousa (TVI), Ana Lourenço e Augusto Madureira (Sic-N); por vezes, Augusto Madureira emite as suas próprias opiniões e permite-se fornecer as respostas junto com as perguntas que coloca – embora não esteja de modo nenhum sozinho nesta boa-prática da entrevista política.
Estes profissionais convidam, à vez, os personagens-vulto que assim rodam sem esforço pelas várias televisões com a lição já sabida. Dá-se até o facto idiota de um convidado ser, por exemplo, comentador assíduo ou residente num outro Canal – sendo que desse modo eventuais surpresas não acontecem e o interesse da própria entrevista é nulo.
Ora é justamente aqui que cabe aos ‘mudos’ o seu papel. Sem falar muito ou mesmo nada, devem acenar com a cabeça, anuir, semi-cerrar os olhos em admiração do entrevistado, esboçar sorrisos de concordância, fazer gestos de desafogo e de convergência aliviada com a Teologia da Igreja Política a que pertence o convidado; sobretudo deixá-los falar completamente sem freio para que estes possam – livres de interrupções inaceitáveis – espalhar melhor o seu Evangelho, por mais disparatado e absurdo que ele seja.
É assim quando Louçã vai aos écrans dizer missa e ameaçar com Autos de Fé da 4ª Internacional; é assim quando se perfila um ex-ministro de Sócrates que vai lá fazer um servicinho ao Chefe; é assim quando o Comité Central do PCP vai ao Estúdio fantasiar parvamente sobre Economia e Finanças sem qualquer tipo de réplica ou questão desconfortável por parte do ‘mudo’; é assim quando um personagem dito de Direita subitamente se transforma num portador da ‘Doutrina social da Igreja’ mais esquerdista ou mesmo num duro e novo mensageiro do socialismo (Bagão Félix, Ferreira Leite, Freitas do Amaral). Os ‘mudos’ são invariavelmente profundamente ignorantes em História, em Economia e em Ciência Política; e têm sobre os seus cérebros atrofiados a vigilância cautelosa dos ‘editores’.
Sobretudo, nada de contrariar o entrevistado; isso seria agressividade jornalística e prejudicial à Democracia.