A vitória de Costa e "do governo que ia
acabar com a austeridade" durou uma semana. Já o muitíssimo martelado Orçamento
de 2016 – que daqui emanou para a
Comissão como um gás - partia do
pressuposto vigarista de que “para repôr a justiça social e salarial” era
lícito aumentar a carga fiscal de maneira generalizada, complicada, absurda e
ideológica, sem todavia admitir ir tudo ao invés do Crescimento Económico e continuando
a farsa propagandística do “Fim da Austeridade”: para Costa, que é um
troca-tintas sem vergonha, bastava vir aos écrans e dizer “vamos crescer X% em
2016”. A nação-papalva acreditaria. Acreditaria e acreditou – pelo menos aquela
parte da Nação que usa calçado confortável, que
acredita em milagres, na astróloga Maya, na inocência de Sócrates, e nas
Santidades de Irmã Lúcia e de José Veiga.
A coisa, no entanto, tresandava horrivelmente
a mentira: Centeno deixou de ser perentório e regressou de semblante carregado,
assinalando o peso fiscal e a necessidade de remeter as 35 horas para o fim do
ano – o que Costa, o grande negociador,
corrigiu e desmentiu logo para maior glória dos ‘acordos à esquerda’ e sossego
das gentes da Inter.
Ferreira Leite entretanto rejubilou e palrou
na TVi – esvoaçante e garota: Costa, o fiel António, "tinha de certo modo
vencido a Comissão e a austeridade" (e ia repôr-lhe a reforma em breve…).
Mas outras notícias e outros sons chegaram
do Eurogrupo, dos mercados e dos credores: indicações da necessidade quase certa
"de medidas (de austeridade…) adicionais" para atingir o deficit; juros da
Dívida Soberana a subir em todos os prazos; agitação e incerteza. Centeno
encafifou e Costa sorriu com a boca de lado balbuciando "tudo indica que vamos
na direcção certa".
Se alguém tivesse dúvidas acerca do fim da
austeridade, elas ter-se-iam dissipado após estes acontecimentos e afirmações.
Apenas as esquerdas radical e estalinista cá do Burgo parecem não ter percebido
que o seu nome já está ligado de forma irrecuperável à obediência à UE e à
submissão aos credores-maus-e-exploradores-do-povo. Veremos que tangas políticas
e tiradas filosóficas usarão quando for preciso abandonar como ratos assustados
o barco de Costa.