Por esta altura Pacheco Pereira deve estar orgulhoso do seu trabalho; o trabalho de alguns anos a verter pérolas, a enriquecer, a treinar e a ensinar o intelecto rudimentar de António Costa. N'aquela interessantíssima Quadratura, o PS sempre teve ao longo do tempo alguma dificuldade em colocar um representante pouco mais do que versado em aritmética elementar - isto, desde o desaparecimento misterioso do mui truculento e irrequieto José Magalhães. Com Jorge Coelho deu-se logo uma degradação política e cultural que, junto com o seu assento cerrado de beirão primitivo, não augurava nada de bom aos socialistas na comparação com meteoros cerebrais como PP. Todavia, Coelho era e é esperto; e soube bem - como compete aos espertos e espertalhaços da política - orientar o seu caminho e guindar-se à posição confortável de middleman entre patos bravos e governos socialistas; e facturar muito.
Mas Costa era outro tipo de animal: à primeira vista modesto (como que consciente da sua bruteza), rotundo e dado a frases vazias mas de sonoridade cavernosa, o homem passava o programa "a ver se aprendia" e a "apanhá-las no ar" com o olhar desorientado de aluno cábula e confuso: acabava, mais tarde, por repetir o que os seus companheiros tinham dito - mas balbuciante e contraditório.
Tudo em Costa se mantêm: a desorientação, a ignorância, a trapalhice, a contradição, a crueza do seu diminuto intelecto; mas saltaram espantosamente cá para fora (para quem não o conhecia...) uma vontade e uma ambição desmedidas insuspeitadas no indivíduo. Mesmo PP deve ter ficado admirado. No entanto ao ex-comunista-maoista azedo que é, deve ter agradado imenso a José Pacheco Pereira a capacidade de Costa para "as pontes à esquerda" e para fazer as desfeitas aldrabonas ao tal PSD que nunca lhe atribuiu o devido valor: « - Tomem lá, seus cabrões !... ».