terça-feira, 31 de maio de 2016

o sr Medina

 
 
O ímpeto reformista e modernizador do sr Medina levou-o a inaugurar, em Setembro último, uma grandiosa campanha de repavimentação das ruas de Lisboa. Coisa que foi excelente e muitíssimo bem coordenada com as Legislativas (às quais Costa concorria sob o arrojado mote da Confiança), acto eleitoral em que os socialistas poderiam capitalizar da recente memória de Costa como Alcaide: de alguma maneira seria quase impossível não conectar António ao alcatrão e, por sua vez, o alcatrão à Confiança que o PS arvorava nos outdoors.
Entretanto o sr Medina começou a ter 'ideias próprias': não tardaram a aparecer as já esperadas e confirmadas promessas de dinamizar a cultura na Capital; assim como o revisitar papalvo das ciclovias e da mania totalitária da atmosfera saudável em Lisboa. Estas duas linhas de acção destinam-se, primeira: a pagar a dívida do apoio eleitoral dado a Costa pela costumeira horda de artistas famélicos da esquerda. Segunda: a aliciar os poucos habitantes de Lisboa e a captar desse modo os seus futuros votos em Autárquicas pois na verdade quem mora e vota efectivamente na Capital são - maioritariamente - médios e altos funcionários da Administração, reformados ricos, aposentados confortáveis da função pública, idosos funcionais adeptos 'do ar livre', gente endinheirada com vasto apartamento e 4 lugares de estacionamento em garagem própria - enfim, toda a massa de indivíduos que adora transportar bicicletas caras no tejadilho do automóvel; e que corre à noite, praticando parvamente cross pelas ruas desertas de Lisboa na esperança de roubar uns dias à Morte.
Ou seja, estas obras faraónicas e maçadoras que Medina leva a cabo não se destinam a quem trabalha na Cidade, mas sim a gratificar empreiteiros e a engraxar eleitores desafogados e ociosos.
A prova ?: Pavimentam-se apenas as grandes e mais visíveis artérias, que afinal não estavam más de todo. Quanto aos "pobres", a Campo de Ourique, a S. Sebastião ou às transversais da Duque de Loulé (por exemplo) podem ser perfeitamente deixadas tal como estão há décadas, com o empedrado de basalto esburacado que rompe a fina rega asfáltica ainda do tempo do Prof. Marcello Caetano.
Até repavimentar cruzamentos, pequenas praças e paragens de autocarro (onde o pavimento está sempre muito mais engelhado e degradado) é difícil a Medina, que prefere trabalhar sem imprevistos e em linha recta: aquilo das curvas e cruzamentos, pura e simplesmente, faz-lhe confusão.
Juntemos a isto tudo os beneficiários directos dos prometidos dinheiros da kultura e do 'paisagismo' - tal como os Represas, os Vitorinos, os Soutos de Mouras e os Gomes das Silvas - e torna-se ostensivo que Costa e Medina jamais tiveram a intenção de governar com equidade e sim a de proteger a malta politicamente fiel que parasita há decénios a encomenda autárquica e o erário público.
 
É, pois, o tempo da confiança do costume.