um
conselheiro mal aconselhado
by rui a. (Blasfémias)
« É um regalo terminar a manhã de um dia de
antevéspera de fim-de-semana a ouvir, na TSF, os disparates do Sr. Conselheiro
de Estado Francisco Louçã sobre o processo de impeachment que corre no Brasil.
Fundamentalmente, a tese do Sr. Conselheiro é de que este processo
constitucional e fiscalizado pelo Supremo se trata de um golpe de estado
promovido pelos grandes interesses capitalistas e financeiros brasileiros,
contra um governo popular, que tanto e tão bem fez ao povo.
Infelizmente, a tese do Sr. Conselheiro não
bate com a realidade: é que esses «grandes interesses» estiveram, desde sempre,
instalados nos governos de Lula e Dilma, a começar pelas grandes construtoras,
como a Odebrecht e a Camargo Corrêa, cujos donos e gestores se encontram presos
graças à investigação que conduziu ao impeachment. O Sr. Conselheiro de Estado,
conhecido inimigo do grande capital, deveria, por isso, estar satisfeito, em
vez de triste.
Depois, quando o Sr. Conselheiro se queixa,
também, de que os urdidores do «golpe» têm sinistras ligações aos antigos
apoiantes da ditadura militar e aos coronéis do sertão, há três nomes que lhe
têm de ser arrojados às fuças, para ver se tem mais pudor no que diz: Paulo
Maluf, José Sarney e Collor de Melo. O Sr. Conselheiro sabe quem são, não sabe?
Ou melhor, sabe quem foram, porque, desde os primeiros tempos do governo Lula,
que qualquer um destes três cavalheiros é seu aliado e faz parte da base de
apoio governamental. O Sr. Conselheiro de Estado Francisco Louçã deveria,
portanto, escolher melhor as suas companhias políticas.
Por fim, o mais grave: a esquizofrenia, tão
característica da extrema-esquerda, de ler entre as linhas e descobrir as
«forças ocultas»: onde o Sr. Conselheiro deveria ver os resultados de uma
pressão popular de milhões de brasileiros, que vieram para as ruas do país
exigir que os seus representantes, no fim de contas, os representassem, única
coisa que fez os deputados mexerem-se, ele vê conspirações em gabinetes
plutocráticos. O problema do Sr. Conselheiro é só um e apenas um: ele não
acredita na democracia. Nem seria de esperar outra coisa de quem sempre esteve,
e continua a estar, na extrema-esquerda. »