quinta-feira, 13 de julho de 2017

LUGAR AO FEIO


Nota do editor:  felizmente para Medina, este tem o apoio do partido unipessoal de Rui Tavares.

Lisboa está como aquelas pessoas obesas que vão àqueles programas de televisão - onde fazem dieta, exercício, autocrítica, meditação, dão entrevistas diárias e são finalmente operadas por um cirurgião plástico (com um discurso e o ar de prosperidade de um pastor evangélico do Texas). Segue-se, geralmente, uma ida a lojas de roupa cara e uma consulta com um qualquer guru da moda que lhes formata o estilo e lhes extirpa temporariamente o mau gosto; cumprido este sacrossanto guião, a pessoa está pronta para a sua aparição aos familiares e amigos (The big Revealed !) completamente recauchutada: há palmas, emoção, lágrimas e o credo papalvo num futuro saudável e promissor. Do mesmo modo, as obras das ciclovias, calçadas, circulação, iluminação, paisagismo e sinalética que assolam Lisboa desde Abril de 2016 estão quase no fim – embora o ritmo e o ímpeto das mesmas tenham sido cuidadosamente refreados de modo a produzir uma “Lisboa Revelada” envernizada, enfarpelada, magra de fresco, barrada e pintada à moda, mesmo a tempo da campanha para as Autárquicas. Empresas como a UDRA ou a PROTECNIL - que ainda há poucos anos estavam quase falidas e não podiam com uma gata pelo rabo - arvoram de novo arrogantemente nos tapumes e taipais de camionetas o duvidoso epíteto “Empreiteiros de Obras Públicas, Alvará nº X”. Estes obedientes serventuários do PS, arranjaram assim maneira de se manter acima da linha de água (facturando alguns milhões de Euros) e de ajudar a materializar a vitória do Sr. Medina que se perfila tranquilamente no horizonte, sem oposição à altura. A “grande revelação” de Lisboa – com a cana do nariz operada, mais inclusiva e mais amiga do reformado e do invisual – chegará enfim para regozijo dos munícipes que envergam roupa desportiva ao fim de semana e que descontam senhas do Continente nas bombas da GALP. O triunfo de Medina, mau grado a frenética oposição de Cristas que reverbera como uma picareta, está assim garantido; até porque de Teresa Leal Coelho não esperamos senão o burocrático cumprir de calendário por parte do PSD: efectivamente, da dona Teresa nada sabemos: o que pretende para Lisboa, o que faria diferente de Medina, quais os assuntos que considera prioritários, etc, etc.; dada a pujança do seu intelecto, o melhor será mesmo assim… É a direita portuguesa, cada vez mais burra e inofensiva, que o dr Passos persiste em nos impingir, pautada pelas suas catastróficas intervenções.
Apesar dos pedrógãos recentes, no País e em Lisboa o PS tudo domina e controla – sendo que na Capital não há tacho, lugarzinho ou prebenda que não tenha sido já estrategicamente usado para a colocação da malta amiga: desde o Curador da Casa Fulano de Tal até ao desentupidor de fossas mais humilde – passando pelo rapaz que, munido de uma almotolia, lubrifica com zelo as engrenagens da Clepsidra do Terreiro do Paço.
A campanha de obras de Medina fará o seu efeito até, obviamente, ao dia seguinte às eleições autárquicas: depois, Lisboa poderá (e irá) de novo engordar, envelhecer, enrugar-se, desleixar-se, sujar-se, feder, emporcalhar-se com farináceos e açúcares.
Mas como prova do desejo esquerdista da inclusão e do uso “das pessoas reais” na campanha, é todavia de apreciar o último conjunto de cartazes e “outdoors” que o PS congeminou “Lisboa precisa de todos” (certamente ainda com Zé Sá Fernandes na memória), nos quais surgem sempre duas figuras reais sobrepostas em vermelho, verde e branco desfocados, simbolizando o conhecido e o anónimo, o pró e o contra, o novo e o velho, o gordo e o magro, o espertalhão e o bacoco, o belo e o feio; sobretudo o feio.