quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

SANTA ENGRÁCIA



 
A meio do mês passado o Sr Medina, usando os media e outros poderes disponíveis ao alcance da CML, fez saber solene e oficialmente aos seus munícipes (súbditos) que “as Obras no Eixo Central tinham terminado”. Esta informação de especial relevância veio em certíssima hora para aliviar humores, animar os reformados e acalmar os espíritos motorizados mais pessimistas: a conclusão das obras deu-se – finalmente ! – e que interessa agora que em Abril de 2016 aquela tenha sido prometida para o fim de Agosto do mesmo ano ?  Afinal, o que são cinco meses e meio de atraso nesta cidade ou mesmo neste país ?: Nada. Com isto (a benevolência generosa dos lisboetas e dos demais utentes da urbe) contava o Sr Medina – que é homem atento, esperto, candidato, socialista e muitíssimo bem espaldado na logística do cartel dos empreiteiros e nos cofres, aparentemente sem fundo, disponibilizados por Compadre Costa.
 
 
o Príncipe e o Tesoureiro
o Sr Medina, enquanto jovem
IL PRINCIPE
Julgo necessário tornar aqui rigorosa, ou tentar explicar, a inefável designação de “Eixo Central”: efectivamente, foram as Avenidas da Liberdade, Fontes Pereira de Melo e da República as mais mexidas e engrandecidas pela faraónica campanha de Medina – embora tenham existido, aqui e ali, assomos de engrandecimento de vias secundárias a estas; tal qual “danos colaterais”. Ora estas avenidas estão no meio do mapa de Lisboa; estão no centro; são centrais – logo, numa qualquer salinha do Departamento de Urbanismo, um rapaz deve ter usado um dia essa feliz expressão “Eixo Central” – e a coisa pegou. Estas expressões fáceis e amáveis têm o condão de se agarrarem aos cérebros superficiais das caixeiras dos shoppings e aos títulos dos pasquins em papel ou online. E são também óptimas para fazer política de outdoor. Claro que enquanto se desenrolava com Amor este embelezamento urbanístico do Eixo Central (que torna Lisboa tão mais docemente inclusiva à maneira nórdica…), todo o resto da cidade vivia (e ainda vive) momentos desesperantes de engarrafanço e en...onamento de tráfego tendo o paroxismo sido atingido por alturas do Santo Natal. Mas que interessa tudo isto, meu Deus ? (‘isto’ e mais o preço) se a coisa t’á linda !!!  Os meus pseudo colegas paisagistas excederam-se: iluminação ledificada, fiérica e em postes da moda; canteiros lindíssimos humedecidos gentilmente por mangueiras marotas que mais parecem regatinhos serpenteantes; lajedo nos passeios em esquinas, próprio para cegos (invisuais); acesso a infraestruturas por alçapão (como na EXPO…); restos arqueológicos de calçada tradicional (o toque vintage da Intervenção); ciclovias agradáveis e amigas do Ambiente – que, como é claro, são diariamente usadas com intensidade por numerosíssimos ciclistas, como em Pequim. Em suma, um luxo. Seria desprezível da minha parte enumerar aqui os muitos pormenores de má concepção e de pior execução; não o farei. Congratulemo-nos pelo facto de, no meio de tanta tralha e de tanto material, ainda sobrar algum espaçozito para circulação automóvel.
 
o Sr Medina zurrinhando
o Sr Medina escutando um clérigo















Porque os socialistas (a esquerda) são (é) assim:
Lisboa é o seu quintal, a sua caixa de areia, o seu recreio. Veio Sampaio e fez obras com dinheiro de Cavaco-CEE; arrancou árvores, alterou o trânsito, meteu tubos; veio Soares e fez obras com dinheiro de Guterres-UE; arrancou mais árvores, alterou o trânsito, meteu mais carros na cidade e inventou a EMEL (a Gestapo dos estacionamentos); veio Santana com o túnel e iam matando o homem; veio de novo o bom senso com Costa e agora com Medina – e voltou a haver o Paraíso na Terra, sendo que desta vez a humanização passa por “retirar carros da cidade”. Eles vão pondo e tirando conforme lhes vai dando na bolha ou necessitam de verbas. Em abono da verdade, a mente fértil e maquiavélica por de trás deste novo grande momento histórico do urbanismo de Lisboa é o Príncipe das Trevas Vereador do Urbanismo, o arquitecto Manuel Salgado: foi ele quem concebeu, magicou e implementou todo este gigantesco estaleiro – que manobra a partir da sombra com mão de mestre. Deixa assim a sua almiscarada marca indelével às esquinas da Capital. Em todo este episódio Costa tem sido o tesoureiro; Medina, o espantalho política ‘que se manda à frente’; e Salgado o verdadeiro dono disto tudo. E ainda não acabou; esperemos ansiosamente pelas eleições.
  É obra.