segunda-feira, 25 de abril de 2016

REPORTAGEM 25 - sequência mais ou menos desorganizada de acontecimentos e de cogitações pessoais:

 
 
25 / -2: A cobertura mediática deste 'Dia de Liberdade' começa com declarações oxidadas e roufenhas por parte de Vasco Lourenço às Televisões; estas apressam-se a ouvir religiosamente as pérolas do velho Trombone: « Voltamos (às cerimónias) ao fim de 4 anos porque agora já não é atacado tudo o que cheira a Abril. » O porcino Capitão-Tenente-Coronel referia-se certamente àquilo que um dia qualquer ficou plasmado pateticamente como "As amplas Liberdades". A mente rígida e pouco dada ao exercício, Vasco Lourenço é presidente da Associação 25 de Abril - o que quer dizer que eles registaram a marca, a patente e os direitos exclusivos - e só esta pode decidir quando, como e por quem a Data pode ser evocada. De resto continuarão infantilmente a comportar-se como o menino que é dono da bola; esta é verde-rubra (mais rubra do que verde) e se alguém a joga com mais intensidade, diferença, justiça ou arte o menino faz birra, confisca a bola e vai para casa merendar mais cedo.
 
25 / -1:  O Presidente Marcelo chega finalmente à hora prevista - rápido, lesto, aéreo, distribuindo olhares amistosos e desafogados - arrastando em vendaval o pobre Oficial do Exército que o acompanha na Revista às Tropas, atropelando desse modo a fanfarra e o solene momento. Toca o Hino - e até este foi rápido. Sobe a escadaria acompanhado de Ferro Rodrigues, esse trambolho político, e enquadrado por personagens que ficam esborratadas nas películas fotográficas de sensibilidade inferior a 400ASA (ou coisa que o valha, em memórias do Século XX...).
 
25 / 0:  As pessoas - deputedos, órgãos de soberania, convidados, partículas de povo e embaixadores - acomodam-se com rumor no Hemiciclo. Pelo Canto do Orfeão o Hino surge outra vez; e Ferro "declara aberta a sessão" - mas logo é interrompido pelo inevitável Orfeão que desta vez gorjeia sentidamente Zeca Afonso. Por fim, atabalhoado, Eduardo Ferro anuncia quem vai tomar a tribuna para palrar, segundo a ordem "crescente do número de deputados". E começa o costumeiro relambório e rol de queixumes.
 
25 / 1: Os partidos;

I - O PAN conseguiu eleger - com honestidade, justiça e mérito - um (1) deputado nas últimas Legislativas. André Silva tomou pois a palavra e o discurso foi simples (bizarro), rápido e indolor.
II - O PEV (Partido Ecologista "os Verdes") jamais foi a votos numas Eleições Legislativas, mas tem o privilégio matemático de maior número de deputados do que o corajoso PAN. Isto porque sempre veio, como um apêndice conveniente, à boleia espertalhaça do PCP. José Luís Ferreira - chato, pastoso e panfletariamente marxista - falou longamente, metendo os pés pelas mãos e evocando assuntos supostamente ecológicos e "coisas" para as quais Cunhal, Carvalhas e Sousa sempre se estiveram violentamente cagando. Uma seca.
III - O PCP (tal como os restantes partidos que viabilizam o governo) resolveu "dar lugar à Nova Geração", escolhendo Rita Rato para discursar em nome do Partido. Em vão: apesar da sua juventude, a deputada (o Comité Central) falou de modo agressivo, duro, pesado como ferro fundido e cortante como o aço - tal como se tivesse feito um estágio de 25 anos na Grande Fábrica de Tractores de Estalinegrado ( Большой тракторный завод Сталинград ). Curto, árido e mau.
IV - O CDS. (Nunca é demais referir que este execrável partido neofascista-da-direita-exploradora-ultramontana consegui mais votos do que a impoluta CDU - que cavalga desde sempre o Socialismo/Marxismo rumo ao Santo-dos-Santos que é o Comunismo (o Paraíso na Terra); e que só não teve mais votos que o BE porque uns milhares de Tias parvas se zangaram com o PS de Sócrates e se apaixonaram temporariamente pelo espesso cabelo negro de Mariana e pelo seu maxilarzinho alvo e juvenil (mas ligeiramente másculo). Ora Nuno Magalhães evocou a irresponsabilidade e o ardil do governo, lembrando perfidamente que o Pacto de Estabilidade deverá (ia) ser escrutinado na AR e votado pela esquerda partidária - sem máscaras e sem escapatórias; isto para o mutismo do PS e para o enfado do PSD. E fez bem. Nota-se o toque de verruma que Cristas começa a adoptar.
V - O BE, pela boca quasi adolescente de um tal de Jorge Costa, levou ao púlpito um rápido discurso poético-patético (querendo também capitalizar Abril para a Rua da Palma) essencialmente insuflado de vácuo. Foi bom para o Bloco porque verdadeiramente ninguém sabe quem é o rapaz; e desse modo Catarina poupou-se a uma embaraçosa exposição pública. Bem fisgado.
VI - O PS também delegou na Juventude - um tal João Torres da JS. Este rapaz exaltado, além de alinhar crassas banalidades do sucia-lismo lusitano, referiu às tantas a "Primeira e Segunda Repúblicas" - ignorando deliberada e espertamente o período 1926 - 1974, que teve vários presidentes (entre eles Craveiro Lopes) e em que Norton  de Matos e Humberto Delgado foram candidatos Presidenciais. Além do mais, Portugal chamava-se então oficialmente República Portuguesa e não Reino de Portugal; logo, de duas uma: ou o Estado Novo pertenceu à 1ª ou então à 2ª República. Como nenhuma destas virtuosíssimas Senhoras o quer, melhor seria considerar então pelo menos uma 3ª República - aquela que hoje sofremos. Por estas e por outras parvoíces é que o complexo de esquerda bafienta tarda em deixar o PS, continuando a aferrolhar esse depósito de beneméritos ao jacobinismo mais liofilizado. Lamentável.
VI - O PSD escolheu com seriedade Paula Teixeira da Cruz, que trazia um bom discurso. Este, porém, foi confusamente proferido e com péssima dicção. Acresce ainda que às tantas acusa o Governo de Esquerda de Salazarismo. Sabemos que na nossa Sociedade tal não é um elogio; e que a ex-ministra se queria referir ao sectarismo e ao proto-totalitarismo despudoradamente praticados por PC, BE e PS no presente momento. Mas chamar aqui Oliveira Salazar é mal e de mau gosto: Salazar nunca foi hipócrita, e o nosso actual Governo e Regime são-no em enormíssima medida; Salazar não enriqueceu, ao passo que a nossa Querida Democracia já encheu o bandulho (e a conta bancária) a uma vasta cáfila de governantes e ex-governantes; finalmente, Salazar não era nem incompetente nem estúpido, ao passo que desde 1974 o destino de Portugal tem passado por algumas das mãos mais ignorantes e asininas de que há memória. Ocasião perdida, Sra Doutora, para uma irrepreensível mensagem.

25 / 2: António Costa;
Felizmente o Protocolo não previu a sua intervenção - que teria sido um auto-elogio mitómano lido em tom de lengalenga escolar e sonoridade de pote de barro vidrado. Agradecimentos à Divina Providência por termos sido poupados a semelhante flagelo.
 
25 / 3: O Xôpresidente da AR, dr Eduardo Ferro Rodrigues;
Está muito bem no posto em que está. Melhor cargo não poderia ter sido arranjado a Ferro; e melhor do que Ferro - que é um trambolho - para tão prestigiante posição não seria possível de desencantar.
Lá mastigou um discurso amortecido; e que às tantas refere "o digital e as redes sociais para melhoria e aproximação da Democracia ao Povo". Isto, vindo de quem conhece bem o compadrio das Concelhias por esse País fora e de quem em 2003 "se estava cagando para o Segredo de Justiça", é notável, seríssimo e comovente. Aliás remete imediatamente para o outro lado do carácter do seu discurso - que teve a honra de partilhar apenas ao de leve com o do PR: a Lacrimosa...

 
25 / 4: O Sr Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa;  
…a Lacrimosa é um momento de exaltação e esperança bem entalado em qualquer discurso presidencial que se preze; e foi usado por Marcelo com mão de mestre. Como já tinha sido bastamente dado a entender desde que tomou posse, Marcelo foi ecuménico mas virtuoso; eclético mas clássico; prudente como um Pai mas divertido como um tio estarola; abrangente mas leve; histórico mas veloz; sapiente mas próximo: é o que dá muita energia, inteligência, saber, experiência de Cátedra e elegância condensadas numa pessoa só. Falou de tudo, de todos (e todas…) e do que está para vir. Chamou a atenção dos Partidos (dos meninos) para a necessidade (para a alegria !) do confronto democrático e dos grandes consensos e Desígnios Nacionais (europeus). Apertou as bochechinhas dos petizes e passou a mão no pelo cerdoso dos velhíssimos Capitães (que acenaram, cheios de razão, as cabeças benevolentes). Em suma comportou-se com a agilidade de um Saguim saltador (sagüim) numa loja da Vista Alegre. Esperemos que não parta entretanto muita porcelana - com desastre e estrondo. Para Marcelo, intervir de improviso, acenar às gentes e falar em público é pão com manteiga. Mas virá o dia em que terá de ser duro, frio e cruel do ponto de vista constitucional – e ele sabe-o bem. Por agora, meus irmãos, troquemos todos o Beijo da Paz.

25 / 5: Notas Finais;

Não sei se haverá ou houve desfile na Av. da Liberdade e festarola para a populaça - nem me interessa saber. Não vou recordar aqui que esta data tem o condão de arrancar das boquinhas ávidas da Malta do Constitucionalismo as palavras e frases sonantes como "Liberdade", "Democracia", "Equidade", "Combate à Corrupção", "Progresso", "Qualificação dos jovens" etc, etc e também não vou referir que justamente são eles os principais agentes da corrupção, do compadrio aventaleiro e da incompetência militante e venérea. E também não vou desenvolver o tema do alternante assalto ao Poder que os partidos fazem regular e furiosamente em busca de comidinha, tachos, ordenados, carreiras, prebendas e colocações no Estado e na Administração Pública (para a mulher, para o filho, para o cunhado, para o amigo fiel como um cão, para o marido eternamente desempregado, para a filha que é louca) e que a desprezível iniciativa privada e seus trabalhadores têm que pagar sem bufar. Não.

Vou falar do edifício da Assembleia da República (antigo convento de frades beneditinos) que o meu excelentíssimo colega Ventura Terra dignificou com mestria no final do Séc XIX: é que nem ele conseguiu dar perspectiva grandiosa e enquadramento digno ao Pórtico e respectiva escadaria. Na verdade o Edifício encontra-se - mercê de uma topografia irregular e desfavorável - encaixado entre ruas, vias, caminhos, casas, linhas de água, prédios, casinhas e fabriquetas; a vista que se tem de cima é a de telhados atarracados, de empenas tristes e construção modesta. Tudo aquilo é um funil urbanístico e arquitectónico; e se este País riscasse algo em termos de Política Internacional seria um PESADELO CONSTANTE defender a segurança de deputados, chefes de estado, visitantes e dos demais cidadãos passantes. As numerosas janelas e telhados fronteiros poderiam ser autênticos ninhos de atiradores furtivos ou arremessadores de ovos podres; e a tropa ou a polícia não conseguem manobrar com rapidez e precisão - sendo que o estreito local confere a toda e qualquer cerimónia militar uma dimensão pífia e assimétrica. De facto, Lisboa (mesmo depois de Carvalho e Melo...) não tem os majestosos enfiamentos e pontos de fuga da Paris de Haussmman, do The Mall em Londres, ou da Washington de L'Enfant. Até o Espaço fronteiro (traseiro) à Ajuda (edifício construído de propósito para palácio) é pequenino, pobrezinho e atravancado de casario e capoeiras. E já é uma sorte a existência de um conventozito ou outro - que a barbárie e o Terramoto não conseguiram destruir. Como dizia o meu Mestre de Desenho, o Pintor Daciano Costa, "se não fossem os Conventos, esta cidade não tinha Edifícios."