segunda-feira, 10 de outubro de 2016

a revolução de Outubro


 

Agora que se vão completar 99 anos sobre a data em que os bolcheviques puderam finalmente deitar a mão à tão cobiçada garrafeira de Nicolau II – invadindo os salões vazios do Palácio de Inverno e estilhaçando cavalarmente os cristais – também por cá se ensaiaram algumas revoluções na rentrée, sendo que uma das mais interessantes foi anunciada pelo Bloco de Esquerda e fez manchete no DN há mais de uma semana: “Revolução na Ria Formosa arranca em Outubro”. Tratava-se simplesmente de resolver de uma vez por todas a questão das barracas e das casas clandestinas que salpicam a paisagem como nódoas fecais, e que se tem arrastado por décadas. Neste país de desordem, de desvergonha e de rasquice de costumes, nem a Tutela nem o dito Poder Local tinham conseguido (ou querido) fazer cumprir a Lei. Vamos a ver se é desta, ou se vai apenas prosseguir o falatório prolongando medonhamente a questão e remetendo este Anúncio Revolucionário ao costumeiro ridículo.
 
Também Marcelo, a pretexto da funesta data do 5 de Outubro, fez saber à plebe babosa “que iria atribuir a Manuel Alegre uma condecoração pelo seu passado de lutador pela liberdade” (ou coisa que o valha). Repare-se nisto; aquando da campanha para as eleições presidenciais, Manuel Alegre fartou-se de bradar às orelhas quentes do eleitorado o arrepiante aviso sob a forma de pergunta: “Cuidado! Será que quereis outro presidente de direita ?!?”. Segundo o trombone-mor do lirismo nacional, a direita é uma coisa de tal modo má, pestilenta e radioactiva que o seu patético alerta se justificava perfeitamente. O PR, porém, puxando do seu ideário católico mais pacificador, resolveu rematar fraternalmente a coisa atirando sem qualquer malícia ao peito de quem o demonizou, uma apetecível e meiga rodela de batata. Manso arranjinho, enternecedor edílio: um faz uso da serôdia política dos afectos (que não víamos desde que o lacrimejante Jorge Sampaio deixou a Presidência) estendendo parvamente uma Comenda ao tonitruante indivíduo; este, esquecendo o perigo da infecciosa direita, apressa-se a aceitá-la…

Eis Outubro.