Os
‘Criados Mudos’: assim alguém chamou, na blogosfera, aos jornalistas obedientes
e acríticos que nas televisões portuguesas fingem entrevistar políticos. É o
epíteto perfeito para uma colecção de homens e mulheres que em todos os Canais
consideram estar a fazer jornalismo. Zorro também tinha um criado mudo (Bernardo):
a calhar, porque se este fosse apanhado e torturado pelo Sargento Garcia, jamais
conseguiriam extrair do homem o que quer que fosse sobre a verdadeira
identidade do Mascarado.
Os
nossos ‘criados mudos’ existem num contexto nada aventuroso; são mais simples,
mais feios, mais previsíveis, mais acinzentados, mais caros - e os políticos adoram-nos
(principalmente os de esquerda): Vítor Gonçalves (RTP), Judite de Sousa (TVI),
Ana Lourenço e Augusto Madureira (Sic-N); por vezes, Augusto Madureira emite as
suas próprias opiniões e permite-se fornecer as respostas junto com as
perguntas que coloca – embora não esteja de modo nenhum sozinho nesta
boa-prática da entrevista política.
Estes
profissionais convidam, à vez, os personagens-vulto que assim rodam sem esforço
pelas várias televisões com a lição já sabida. Dá-se até o facto idiota de um
convidado ser, por exemplo, comentador assíduo ou residente num outro Canal –
sendo que desse modo eventuais surpresas não acontecem e o interesse da própria
entrevista é nulo.
Ora
é justamente aqui que cabe aos ‘mudos’ o seu papel. Sem falar muito ou mesmo
nada, devem acenar com a cabeça, anuir, semi-cerrar os olhos em admiração do
entrevistado, esboçar sorrisos de concordância, fazer gestos de desafogo e de
convergência aliviada com a Teologia da Igreja Política a que pertence o
convidado; sobretudo deixá-los falar completamente sem freio para que estes
possam – livres de interrupções inaceitáveis – espalhar melhor o seu Evangelho,
por mais disparatado e absurdo que ele seja.
É
assim quando Louçã vai aos écrans dizer missa e ameaçar com Autos de Fé da 4ª
Internacional; é assim quando se perfila um ex-ministro de Sócrates que vai lá
fazer um servicinho ao Chefe; é assim quando o Comité Central do PCP vai ao Estúdio
fantasiar parvamente sobre Economia e Finanças sem qualquer tipo de réplica ou
questão desconfortável por parte do ‘mudo’; é assim quando um personagem dito
de Direita subitamente se transforma num portador da ‘Doutrina social da Igreja’
mais esquerdista ou mesmo num duro e novo mensageiro do socialismo (Bagão
Félix, Ferreira Leite, Freitas do Amaral). Os ‘mudos’ são invariavelmente profundamente
ignorantes em História, em Economia e em Ciência Política; e têm sobre os seus cérebros
atrofiados a vigilância cautelosa dos ‘editores’.
Sobretudo,
nada de contrariar o entrevistado; isso seria agressividade jornalística e
prejudicial à Democracia.