Nota do editor: felizmente para Medina, este tem o apoio do partido unipessoal de Rui Tavares. |
Lisboa está como
aquelas pessoas obesas que vão àqueles programas de televisão - onde fazem
dieta, exercício, autocrítica, meditação, dão entrevistas diárias e são finalmente
operadas por um cirurgião plástico (com um discurso e o ar de prosperidade de
um pastor evangélico do Texas). Segue-se, geralmente, uma ida a lojas de roupa
cara e uma consulta com um qualquer guru da moda que lhes formata o estilo e
lhes extirpa temporariamente o mau gosto; cumprido este sacrossanto guião, a pessoa está pronta para a sua aparição
aos familiares e amigos (The big Revealed !) completamente recauchutada: há
palmas, emoção, lágrimas e o credo papalvo num futuro saudável e promissor. Do
mesmo modo, as obras das ciclovias, calçadas, circulação, iluminação,
paisagismo e sinalética que assolam Lisboa desde Abril de 2016 estão quase no
fim – embora o ritmo e o ímpeto das mesmas tenham sido cuidadosamente refreados
de modo a produzir uma “Lisboa Revelada” envernizada, enfarpelada, magra de fresco, barrada
e pintada à moda, mesmo a tempo da campanha para as Autárquicas. Empresas como
a UDRA ou a PROTECNIL - que ainda há poucos anos estavam quase falidas e não
podiam com uma gata pelo rabo - arvoram de novo arrogantemente nos tapumes e
taipais de camionetas o duvidoso epíteto “Empreiteiros de Obras Públicas,
Alvará nº X”. Estes obedientes serventuários do PS, arranjaram assim maneira de
se manter acima da linha de água (facturando alguns milhões de Euros) e de ajudar
a materializar a vitória do Sr. Medina que se perfila tranquilamente no
horizonte, sem oposição à altura. A “grande revelação” de Lisboa – com a cana
do nariz operada, mais inclusiva e mais amiga do reformado e do invisual – chegará enfim para regozijo
dos munícipes que envergam roupa desportiva ao fim de semana e que descontam
senhas do Continente nas bombas da GALP. O triunfo de Medina, mau grado a
frenética oposição de Cristas que reverbera como uma picareta, está assim
garantido; até porque de Teresa Leal Coelho não esperamos senão o burocrático
cumprir de calendário por parte do PSD: efectivamente, da dona Teresa nada
sabemos: o que pretende para Lisboa, o que faria diferente de Medina, quais os
assuntos que considera prioritários, etc, etc.; dada a pujança do seu
intelecto, o melhor será mesmo assim… É a direita portuguesa, cada vez mais
burra e inofensiva, que o dr Passos persiste em nos impingir, pautada pelas
suas catastróficas intervenções.
Apesar dos pedrógãos
recentes, no País e em Lisboa o PS tudo domina e controla – sendo que na
Capital não há tacho, lugarzinho ou prebenda que não tenha sido já
estrategicamente usado para a colocação da malta amiga: desde o Curador da Casa
Fulano de Tal até ao desentupidor de fossas mais humilde – passando pelo rapaz
que, munido de uma almotolia, lubrifica com zelo as engrenagens da Clepsidra do
Terreiro do Paço.
A campanha de obras de
Medina fará o seu efeito até, obviamente, ao dia seguinte às eleições
autárquicas: depois, Lisboa poderá (e irá) de novo engordar, envelhecer,
enrugar-se, desleixar-se, sujar-se, feder, emporcalhar-se com farináceos e
açúcares.
Mas como prova do
desejo esquerdista da inclusão e do uso “das pessoas reais” na campanha, é
todavia de apreciar o último conjunto de cartazes e “outdoors” que o PS
congeminou “Lisboa precisa de todos” (certamente ainda com Zé Sá Fernandes na
memória), nos quais surgem sempre duas figuras reais
sobrepostas em vermelho, verde e branco desfocados, simbolizando o conhecido e
o anónimo, o pró e o contra, o novo e o velho, o gordo e o magro, o espertalhão
e o bacoco, o belo e o feio; sobretudo o feio.