Centeno aproveitou bem a maré enchente da recuperação económica e solitário - encerrado no seu gabinete - levou a cabo o paciente trabalho de ratinhar aqui, cortar acolá, desinvestir totalmente na despesa pública (que os socialistas tanto adoram) não pagar a fornecedores, deixar morrer doentes nos hospitais etc, etc; ou seja, de continuar e agravar uma austeridade necessária. Mas que ninguém (os deputados da oposição mal preparados, os pasquins, os comentadores, os militantes do PS e os comunas) refere ou sequer admite: a austeridade, pura e simplesmente, acabou no dia em que Costa tomou posse - e desde então o povo vive feliz, saudável e mais longamente do que no tempo de Passos. E tudo se tem conjugado harmoniosamente para acariciar esta velha Nação de gente mansa e modesta: o miúdo cura-se do cancro, os médicos (quais ?) não sabem explicar, Fátima faz 100 anos, dá-se o Milagre certificador, Francisco combate a Injustiça, Trump e a exclusão - deslocando-se à Cova da Iria onde colhe de passagem os ósculos babosos da família Costa e do prof. Marcelo. Enternecedor. E os Milagres não pararam: Festival Eurovisão, Benfica tetra-campeão, mais um miúdo amparado sem um arranhão de uma queda bizarra e inexplicável, o vírus informático dos resgates que arrasou o Reino Unido e outros países ficou molemente à porta da mui-religiosa administração pública em tolerância de ponto... e ainda o homem-bomba que se foi fazer rebentar ao pé de Ariana Grande, poupando criteriosamente Cuca Roseta ou Ana Bacalhau. Tudo nos está de feição; e tudo devemos à maternal Intervenção de Nossa Senhora e à bonacheirice de António [Costa].
Entretanto o português médio rejubila cheio e reluzente de benfiquismo como um mosquito ou um vampiro atafulhados de sangue: o campeonato, a homenagem lacrimosa a Vieira, a Taça de Portugal !... Pois se até Marcelo abraçou os jogadores do Guimarães e beijou a face dos Encarnados - emocionado e afectuoso !
A não ser às obras 'New Deal' do sr Medina, Centeno não tem dado um tostão aos artistas, ao cinema, aos poetas, aos arquitectos e aos vereadores (e muitíssimo bem) mas estes e os sindicatos remoem em surdina um despeito crescente que um dia acabará por se espalhar na atmosfera como um gás intestinal.
Mas vem aí o tempo do calor pegajoso e da luz áspera, da chinela e do calção, da camisa de alças e da tatuagem à mostra, do cervejum e do cheiro a camarões azedos: depois do Outono e das autárquicas logo se verá.
Que país abençoado, meu Deus...